O humor na cobertura da campanha eleitoral : as legislativas de 2015 na rubrica "isso é tudo muito bonito, mas"

Nas últimas décadas, o jornalismo tem alterado o modo como representa a política. A pressão económica, a crescente comercialização da linha editorial, o desinteresse da população por aquele tema e a alteração dos gostos das audiências explicam as mudanças na cobertura noticiosa, cada vez mais voltada para uma abordagem de soft news, com conteúdos mais apelativos e portanto mais comerciais. Assim, a cobertura jornalística da política passa a integrar estratégias de modo a atrair e a fidelizar os eleitores, nomeadamente em períodos eleitorais. O uso do humor e da sátira foram fundamentais na aproximação entre os políticos e os eleitores nos programas de infotainment, fornecendo contextos e temas para a discussão no espaço público. Em Portugal, estes programas têm sido levados a cabo principalmente pelo grupo humorista, Gato Fedorento. Neste contexto, a presente investigação tem como objetivo identificar as estratégias de representação da política no discurso humorístico, através da análise do formato, do enquadramento e do tom da rubrica e identificar a sua relação com a narrativa jornalística, através da análise dos temas dominantes e da cobertura dos partidos e protagonistas políticos. Para tal, foi analisada a rubrica da TVI (Televisão Independente) “Isso é tudo muito bonito, mas” e utilizado o método de análise de conteúdo. A investigação utilizou o método complementar da entrevista, realizando-a aos protagonistas da rubrica e a jornalistas políticos para melhor compreender as estratégias e objetivos da rubrica. Esta investigação permitiu concluir que a rubrica propôs uma visão distinta da campanha num formato de jornal televisivo que fazia o acompanhamento diário das atividades de campanha num registo convencional, mas seguindo de perto a agenda jornalística bem como os critérios de noticiabilidade tradicionais. Concluímos também que o próprio formato da rubrica constituiu uma crítica ao jornalismo através de uma “cobertura de segundo grau”.In the last decades, journalism has changed the way it represents politics. The economic pressure, the increasing commercialization of the editorial line, the population’s disinterest in the theme and the modification of the audiences’ tastes, explain the changes in the news coverage, each time more focused towards a soft news approach with appealing contents and therefore more commercial. Thereby, the journalistic coverage of politics starts to integrate strategies to entice and retain the voters, particularly during election periods. The use of humor and satire were fundamental on the approach between politicians and voters in infotainment programs, providing context and topics to discuss in the public sphere. In Portugal, these programs have been carried out by a group of humorists called Gato Fedorento. In this context, the investigation here presented aims to identify the strategies of representing politics in the humoristic speech, through the analysis of its format, framework, the sketch’s tone and identify its connection with the journalistic narrative by the analysis of dominant themes and the coverage of parties and political actors. For such, it was analyzed the TVI’s (Independent Television) sketch “Isso ́ tudo muito bonito, mas” and it was used the method of content analysis. It was also used in this investigation the complementary method of the interview performing it with the protagonists of the sketches and with politic journalists for a better understanding of the sketch’s strategies and goals. This investigation allowed to conclude that the sketch proposed a distinct vision of the campaign in a television broadcast format that made the daily coverage of the campaign activities in a conventional registry, but following closely the journalistic agenda, as well as the traditional noticeability criteria. We conclude as well that the sketch’s format itself constitutes a critic to journalism through a “coverage of seconddegree”